A Fuga das Galinhas (Chicken Run, 2000)



“We’ve got to get out of here!”
CONTINUA SENDO UM DOS MELHORES FILMES QUE EU JÁ ASSISTI. Com uma técnica de stop-motion excelente e revolucionária para a época, uma aprovação de 97% no Rotten Tomatoes (!) e um roteiro impecável, “A Fuga das Galinhas” é uma aclamação mundial e com toda a razão… o filme conta a história de um grupo de galinhas que mora numa granja da Inglaterra, pertencente aos Tweedy, e elas sonham em ser livres. O roteiro inteligente, ágil e envolvente é bastante crítico, e eu sempre tive dificuldade para vê-lo como um filme “infantil”. Certamente ele diverte as crianças com as suas galinhas carismáticas, piadas divertidas e cenas coloridas, mas a profundidade do roteiro também é bastante chamativa para adultos, e por isso eu o classifico como um filme para todo mundo… sinto que TODOS deviam ver “A Fuga das Galinhas”.
Que filme! <3
“A Fuga das Galinhas” narra a situação da classe trabalhadora, oprimida, se unindo para derrubar o sistema… basicamente. No início do filme, vemos Ginger fazer uma série de tentativas de fuga, e todas acabam falhando, e então ela passa alguns dias na “solitária”. O Sr. Tweedy, que a detesta com todas as suas forças, está convicto de que “as galinhas estão organizadas”, mas é claro que a Sra. Tweedy não quer lhe dar ouvidos – afinal, são galinhas, como elas podem estar organizadas? Podia citar políticos, mas vamos nos conter. Ginger já liderou tentativas de fugas por baixo da cerca, ou por túneis, e uma série de engenhocas que acabaram nunca dando certo… tanto que várias galinhas estão simplesmente desistindo – para que continuar tentando? Mas a resposta é: para salvar as galinhas. É tristíssima aquela cena em que uma galinha é morta por não botar mais ovos há dias!
Assim, Ginger espera que algo mude, que alguma resposta “caia do céu”.
E cai.
Um galo bonitão e convencido, chamado Rocky Rhodes, aparece “voando” na granja, e Ginger vê um cartaz do galo em que realmente parece que ele está voando: então, ela decide que a única maneira que elas ainda não tentaram fugir é por cima, e é isso o que elas vão tentar agora! Rocky só precisa ensiná-las a voar. É claro que Rocky está mentindo (galo não voa!), mas ele sabe que “ajudar” as galinhas é a única maneira de estar protegido de seu próprio cativeiro, o circo, então ele acaba ficando por ali, colocando as galinhas para fazer uma série de exercícios, e as submetendo a tentativas vergonhosas de voo que, no fim, são muito divertidas… a melhor cena de Rocky Rhodes, no entanto, é a cena da festa, em que ele coloca todos para dançar, para “se distraírem”. Não seria possível escapar se dependesse apenas de Rocky… mas também não podia ser só do jeito da Ginger.
Elas precisavam daquele momento.
As coisas se complicam pra valer quando a Sra. Tweedy, insatisfeita com o lucro gerado pela produção de capital pelos seus operários ovos pelas suas galinhas, resolve explorá-las de uma nova maneira: transformando-as em tortas. Ela compra uma máquina imensa e cruel, e o Sr. Tweedy escolhe Ginger para testá-la – a sequência é um primor do cinema. Aqui, enquanto nos preocupamos com a Ginger virando torta e enquanto Rocky faz de tudo para salvar a sua vida, apesar de tudo, nós nos sentimos angustiados o tempo todo, mesmo sabendo que a Ginger não pode morrer… pode? O suspense é bem construído e, felizmente, Rocky consegue “sabotar” a máquina que faz tortas, o que dá as galinhas um pouco mais de tempo para “voar”. Agora, no entanto, é mais urgente que nunca que Rocky as ensine a voar por cima da cerca, para serem livres.
No dia seguinte, quando Ginger acorda toda animada e quando Fowler, o Comandante, já reconheceu o trabalho de Rocky (!), o galo de circo escapou, porque ele nunca soube voar… ele deixa para trás uma medalha de Fowler e o resto do cartaz que Ginger encontrou no início do filme e começou toda essa confusão: a parte do cartaz em que podemos ver um canhão lançando Rocky… e, naquele momento, parece que não existe mais escapatória. Nada do que as galinhas fizeram até agora deu certo, e voar não é mais uma opção. Eu AMO a Ginger, eu amo a sua convicção, eu amo a maneira como ela lidera essas galinhas, e eu amo como ela nunca perde as esperanças – e a capacidade de ter novas ideias. Com a ajuda de Fowler, ela pensa que eles podem construir um avião, como aquele no qual ele “trabalhava” na guerra, e então eles fugirão.
Voando, no fim das contas…
Só que de um jeito diferente.
A sequência de construção do avião é uma das MELHORES do filme todo… sob a liderança de Ginger e Fowler, todas as galinhas trabalham juntas, roubando ferramentas e material, e aproveitando as forças de cada uma… temos a inteligência de Mac, que planeja tudo e guia a construção, por exemplo, e a paixão de Babs pela costura, que também se mostra extremamente útil (e necessária) para essa construção. E, assim, AS GALINHAS CONSEGUEM CONSTRUIR O AVIÃO PARA ESCAPAR. Amo vê-las pedalando todas juntas, vê-las resolvendo os problemas com a rampa quando os Tweedy tentam sabotá-las, amo ver o retorno de Rocky, ajudando Ginger no fim das contas, e amo aquele final com referência a “De Volta Para o Futuro”, com a Ginger pendurada como o Marty McFly no DeLorean, com direito ao Fowler gritando “Great Scott” como o Doc Brown.
O final do filme é ótimo… quando as galinhas se unem, elas mostram que o poder pertence a elas, e que, sem a força de trabalho sem elas, o Capital os Tweedy não têm meios para produção de lucro. Eles perderam a casa, a máquina, as galinhas e os ovos… tudo. Enquanto isso, as galinhas pedalam/voam para a sua liberdade, em um santuário longe dali, e é um final delicioso, em que vemos os filhinhos de Ginger e Rocky se divertirem com Mac (ah, eu também adoro o beijo deles no avião!), e aquela última fala de Ginger quando Rocky lhe pergunta se é tudo o que ela imaginou: “Não. É melhor”. Eu adoro “A Fuga das Galinhas”. Além de ser uma crítica porreta, o filme ainda é uma excelente produção e é cheio de momentos divertidos que nos fazem rir (ah, os comentários da Babs!). Uma sequência está confirmada para 2020, e eu não quero me precipitar… mas tenho medo.
“A Fuga das Galinhas” já é tão perfeito sozinho!


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