Esqueceram de Mim (Home Alone, 1990)

“I made my family disappear!”

Esqueceram de Mim é aquele filme que você viu trezentas vezes na Sessão da Tarde, mas que você nunca cansa de assistir. Eu sou apaixonado pela inteligência e astúcia de Kevin, e a interpretação de Macaulay Culkin está uma graça – e o filme tem uma profundidade pela qual ele comumente não é lembrado. É um filme sério no fim das contas! Divertido e fofo, o filme tem toda uma mensagem sobre família e o mais legal é que o aprendizado não está apenas para a criança da história, mas para toda a família que também não sabia como lidar com ele. Assim, temos um filme doce, lindo e com uma vibe de MacGyver transposta para o público infantil que é bem bacana de se ver… acontece que Kevin foi esquecido em casa quando a família saiu para as Férias de Natal, e então ele tem que dar um jeito de se virar sozinho.

O filme começa apresentando uma infinidade de pessoas na casa dos McCallisters, e eu devo dizer que o Kevin, um garotinho de apenas 8 anos, estava por perto querendo um pouco de ATENÇÃO e CARINHO e ninguém estava dando isso para ele. Os pais não pareciam “ter tempo” para ele, os seus irmãos e primos eram uns verdadeiros nojentos. Então ele desabafa em falas como “Why do I always get treated like scum?”, “Everyone in this family hates me”, “Families suck” e “I don’t wanna see you again for the rest of my whole life. And I don’t wanna see anybody else either”. E eu devo dizer que aquilo me atinge profundamente. Não é algo leviano e os pais deveriam prestar atenção em discursos como esse! Aquele garotinho, que estava realmente sendo tratado como LIXO por seus familiares, estava expondo os seus sentimentos.

E ninguém lhe deu atenção.

Assim, como a representação de uma criança TRISTE e sofrendo, Kevin vai para o sótão onde fica de castigo – e ele faz um pedido involuntário de Natal pelo qual ninguém poderia culpá-lo: “I wish they all just disappeared!” E isso acontece, a família toda desaparece. Quer dizer, com uma confusão de uma árvore caindo e desligando a energia da casa, eles perdem a hora do voo por 4 HORAS, e então é um desespero para sair… uma verdadeira maratona, e ninguém sobe ao 3º andar para buscar Kev, e ainda há o negócio de contarem uma cabeça errada, do vizinho, o grupo se dividir em duas vans, então provavelmente quem estava em uma presumiu que o Kev estivesse na outra e vice-e-versa. Ainda acaba com os adultos todos na Primeira Classe do avião enquanto as crianças supostamente estão na Classe Econômica, o que quer dizer que aqueles pais demoram para se dar conta que uma criança ficou para trás na confusão toda.

KEVIN!

É um pouco tristinho quando Kevin acorda e vê a casa COMPLETAMENTE VAZIA. Ele anda perguntando “Mom? Dad? Where are you guys?”, e solta um lamentoso “I made my family disappear…”, mas é rapidamente trocado por uma versão mais animada da mesma fala quando ele se lembra de como foi tratado, de como foi chamado de inútil, incompetente, como disseram que iam dá-lo de comida para a aranha de estimação, como ele era uma doença, o encrenqueiro… e um monte de coisas assim. Como se sentir culpado por fazer a família desaparecer NESSAS condições? Então ele começa a fazer TUDO o que toda criança já quis fazer sozinho em casa, realizou nossos sonhos! Leu a Playboy, mas não curtiu muito, comeu porcaria, assistiu filme que era proibido de assistir (e embora ele tenha se assustado, o filme lhe foi bastante útil!) e desceu a escada de trenó, cheio de roupas grossas para não se machucar.

Uma diversão pura.

Enquanto isso, enquanto Kevin McCallister ainda está curtindo a alegria de estar sozinho em casa, a mãe se deu conta do que fizeram: “We forgot him. What kind of mom am I?”, e então ela começa uma verdadeira maratona para tentar voltar para casa e ver como está seu filho – mas quer saber? EU ACHEI BEM-FEITO. Eu quis que ela tivesse toda a dificuldade do mundo, que sofresse e que se sentisse culpada e a PIOR MÃE DO MUNDO. Porque era sim o que o início do filme dava a impressão que ela estava sendo! O único problema é que bandidos aparecem para roubar a casa dos McCallisters, e então surge o medo – que Kev tenta afastar depressa, saindo de debaixo da cama, indo para a rua e anunciando: “Do you hear me? I’m not afraid anymore!” Antes de sair correndo no grito mais fofo possível do “Assassino da Pá de Neve”, que era apenas o seu inofensivo vizinho.

No segundo dia SOZINHO EM CASA, Kevin pega as economias do irmão, solta sua tarântula por acidente, vai comprar uma escova de dentes, mas acaba fugindo da polícia porque saiu sem pagar, ao fugir do “Assassino”, e eu fiquei com pena porque ele voltou pra casa super tristinho, do tipo “I’m a criminal”. Mas ele não teve tempo para se preocupar com isso, porque os ladrões estavam de volta. Inteligentemente, Kev não os guia até sua casa, e se esconde no presépio em uma das primeiras demonstrações de sua indubitável inteligência. E então ele garante: “When these guys come back, I’ll be ready”. E ENTÃO COMEÇA O ESQUECERAM DE MIM. Seu primeiro plano é organizar uma “festa”, E EU ADORO A INTELIGÊNCIA DO KEV! Tem música, tem um papelão em formato de gente preso a um trem de brinquedo em movimento, um manequim girando na vitrola, um monte de cordas sendo puxadas…

Perfeito e INTELIGENTE DEMAIS, uma perfeita festa simulada.

Que eu não seria capaz de organizar, por exemplo.

Basicamente, o Kev é um PRODÍGIO. Adoro a cena dele pedindo pizza e então usando o filme para pagar – e ainda se divertiu horrores no final. Mas mesmo assim, ele começa a sentir falta da família, mostrando como o filme tem sentimento e fala de algo sério. Ele fala com um porta-retratos e diz que o que ele disse não era sério, e que se eles voltassem ele prometia não ser mais um pé no saco. Mas eu ainda defendo que o problema na família NÃO era só ele. No outro dia, ele vai para o mercado sozinho, e é um amor. Cheio de marra e astúcia para fazer compras sozinho e ainda escapar de perguntar que não queria responder – e ainda usou a mesma cena daquele filme que seu tio não queria que ele assistisse, dessa vez com o auxílio de bombinhas para assustar um dos bandidos que começa a se esgueirar para ver se dá para entrar na casa ou não.

Duas cenas me marcam antes do grande clímax do filme. Uma delas é quando ele sai de casa e vai atrás do “Papai Noel”, e o encontra entrando no carro para ir embora, e diz que já tem 8 anos, que já sabe como as coisas funcionam, e que sabe que ele não é o Papai Noel de verdade, mas que trabalha para ele: então ele pede a sua família de volta. E aquilo é comovente! Outra cena foi o encontro dele com seu vizinho, o suposto “Assassino da Pá de Neve”, na igreja na noite de Natal, e ele está lá para ver sua netinha, que não pode ver por causa de um problema que teve com o filho. Ambos compartilham um momento belíssimo, uma conversa madura e conselhos importantes. E é Kevin quem fala para ele: “My point is: you should call your son”, e aquilo é absolutamente lindo. Porque eles falam de família e de medo, e sobre como amamos nossas famílias mesmo quando falamos que não os amamos.

Mesmo quando pensamos que não os amamos.

“Merry Christmas”

E então vem o grande clímax, aquela cena pela qual o filme é famoso e referenciado até hoje! “This is my house. I have to defend it”. Kevin McCallister defende sua casa dos bandidos, e é cada bugiganga e ideia mirabolante que só posso pensar nele como um pequeno aprendiz de MacGyver. Tem de tudo. Água congelada nas escadas. Maçaneta pegando fogo. Piche nos degraus. Ferro caindo. Fogo na cabeça. O que você imaginar. E é uma loucura super divertida! Acho que devíamos vender Kevs robotizados como sistemas de segurança! “Do you guys give up or are you thirsty for more?” Ele consegue, com 8 anos, não só espantar os bandidos, mas ainda mandá-los PARA A PRISÃO! Como eu digo, um prodígio! E então sua família retorna, mostrando todo o amor que sentem por Kev apesar de tudo, e admirados porque ele foi no mercado sozinho…

Se eles tivessem noção de TUDO o que ele fez! <3

Me emociona ele vendo o vizinho com a família dele e o tchauzinho do fim! \o/

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