VIVA: A Vida é uma Festa (Coco, 2017)


“Lembre de mim…”
Mais um MARAVILHOSO ACERTO da Pixar! Para mim, “VIVA: A Vida é uma Festa” é uma das melhores e mais emocionantes animações da minha vida – e desde 2015, com “Divertida Mente”, que eu não via uma animação TÃO BOA no cinema! O filme tem força e carisma, em um visual belíssimo (como sempre), músicas fofas e uma história cativante e bela. Um dos maiores acertos do filme, ainda, é ambientá-lo no México e representar com tanta destreza, respeito e emoção uma data tão importante para a cultura mexicana: EL DÍA DE LOS MUERTOS. Além de ser inteiramente tocante, me apaixonei pela maneira como a história foi construída sobre uma base sólida de elementos culturais, e o resultado é admirável. Me encantou totalmente, e não só a mim, uma vez que o filme já consegue 97% de aprovação no site Rotten Tomatoes.
Em comparação, “Frozen” tem 89%.
Mas “Divertida Mente” ainda tem 98%, os filmes estão quase empatados! E realmente estão em níveis muito próximos de construção de trama, de visual e de emoção. “VIVA: A Vida é uma Festa”, ou “Coco” no original, é minha nova PAIXÃO em termos de animação. O filme começa contando a história da Família Rivera, que há várias gerações baniu a música de suas vidas. Há muito tempo, o seu tataravô abandonou sua esposa e filha para se dedicar à música, e nunca mais voltou. Desde então, sua esposa se dedicou à arte de fazer sapatos, e proibiu qualquer manifestação musical entre os Rivera. E assim ela passou adiante, a todas as gerações que vieram a seguir. A Mamá Inês. A Abuelita. E os pais de Miguel. Uma família de sapateiros, e provavelmente a “única família no México que não gosta de música”. Ou assim ele acredita, pelo menos.
No entanto, Miguel Rivera, um garoto de apenas 12 anos, com uma covinha de um lado e não de outro, não sente que se encaixa na família. Afinal de contas, MÚSICA É SUA PAIXÃO. E ninguém parece entendê-lo, o que parece bastante cruel. Ele é proibido de cantar, de tocar e de falar com músicos na praça, onde trabalha engraxando sapatos – até que, no feriado do Día de los Muertos, a Família Rivera decide tornar-lhe um sapateiro como todos os outros… então ele nunca mais precisará ir à praça. Eu comecei o filme muito triste pelo Miguel, que amava a família dele, mas que sofria por eles não entenderem sua paixão pela música, e por não respeitarem isso. Foi crueldade quebrar e jogar fora as coisas dele que tinham relação com música, por isso ele explodiu e disse que “não queria mais aquela família”, e correu em busca de um violão para que pudesse tocar no show de talentos daquela noite!
Foi assim que ele derrubou a foto da Mamá Imelda Rivera, que tinha o rosto do marido rasgado fora, e a pequena Inês no meio deles, e descobriu algo revelador: que Ernesto de la Cruz, o maior músico da história do México, era o seu tataravô! Por isso, ele corre pela cidade em busca de um violão, e acaba chegando até o túmulo de Ernesto, onde o seu violão está exposto, e pensa que não seria um problema pegá-lo emprestado apenas por algumas horas, para se apresentar no show de talentos… afinal de contas, ele era seu tataraneto, não era? Mas era Día de los Muertos, o dia em que se oferece coisas aos mortos, não as toma, e Miguel Rivera foi castigado por isso, transposto para o mundo espiritual, invisível aos vivos, mas capaz de enxergar os espíritos que atravessavam a ponte até o nosso mundo, guiados pelas pétalas colocadas pelas famílias, para que os espíritos encontrem o seu caminho até em casa.
A ideia é genuína e bela.
Fiquei fascinado pela incrível construção do Mundo dos Mortos, e pela beleza inerente às pontes que simbolizam a travessia entre esse e aquele mundo. Elas são construídas com as pétalas laranja espalhadas pelas famílias, e o visual é impressionante. Conhecendo esse outro mundo, vemos a manifestação concreta a partir das crenças da cultura mexicana: o sistema que permite ou não a passagem para a visita às famílias, só permitida caso sua foto tenha sido colocada nas oferendas, e conhecemos Hector, que tenta passar fantasiado de Frida Kahlo (!), mas sem foto nas oferendas, não consegue. As pétalas não deixam que ele caminhe sobre as pontes. Então, assim começa a aventura de Miguel Rivera ao lado da família no Mundo dos Mortos, especialmente quando Mamá Imelda Rivera não consegue fazer a travessia porque ele tirou sua foto.
Ouch.
Uma das cenas mais bonitas visualmente é quando entendemos como Miguel pode retornar ao seu mundo: ele só precisa da benção de alguém de sua família e uma pétala. Imelda lhe dá essa benção, com a condição de que ele nunca mais volte a cantar em sua vida. Sem saber das consequências de suas mentiras, ele aceita a condição e retorna ao mundo dos vivos, em um efeito impressionante. Mas a primeira coisa que ele faz é pegar novamente o violão de Ernesto de la Cruz e tentar ir até o show de talentos… e então ele é levado de volta ao Mundo dos Mortos. 2 segundos e ele já descumpriu sua promessa. Então, como a família não o entende, ele diz que não precisa da benção deles, e foge em busca do próprio Ernesto de la Cruz, o seu ídolo de toda a vida e, como descobriu agora, seu tataravô… ele é família, então ele pode dar-lhe a benção.
No caminho, ele tem a ajuda de Hector.
As cenas são lindíssimas. Miguel e Hector criam um vínculo bonito enquanto um tenta ajudar o outro. Hector ajudará Miguel a encontrar Ernesto de la Cruz, para conseguir sua benção, e Miguel promete colocar a foto de Hector nas oferendas quando retornar. Ele quer muito visitar o Mundo dos Vivos, ver sua filha uma última vez… e quando você é esquecido do lado de cá, você desaparece do lado de lá. Você deixa de assistir a partir do momento em que ninguém mais se lembra de você. É doloroso, mas perfeitamente compreensível – e valoriza a ideia do Día de los Muertos e a necessidade de lembrarmos e celebrarmos nossos antepassados, reviver suas fotos e suas memórias… vemos um homem desaparecer do lado de lá, quando ele é completamente esquecido, e é assim que Miguel consegue o seu novo violão… enquanto sua família lhe busca incessantemente com a ajuda de Pepita.
Falando em Pepita, eu ADOREI a construção dos alebrijes, que são animais que funcionam como guias espirituais. Enquanto eles buscam por Miguel, ele tenta chegar até Ernesto de la Cruz, e sua única esperança é vencer um concurso na praça e ser levado para tocar em sua festa… assim, ele canta “Un Poco Loco” com Hector e, para mim, é um dos momentos mais emotivos e fofos do filme. É alegre, divertido, mas perfeitamente emocionante. Mas é depois disso que Miguel acaba se separando de Hector, que tenta devolvê-lo à sua família ao descobrir que estão atrás dele, e Miguel foge, não sem antes confrontar a tataravó Imelda e culpá-la pelo seu sofrimento ao banir a música da família. Assim, ele entra na festa de Ernesto com a ajuda da banda que venceu o concurso, e espera que o tataravô escute a música. Por isso, ele canta.
E QUE CENA LINDA.
Miguel é recebido por Ernesto de la Cruz, que o reconhece como seu tataraneto, e a alegria de Miguel é tão sincera e tão encantadora… mas ele precisa voltar logo embora, porque se amanhecer no Mundo dos Mortos, ficará ali para sempre. Antes que Ernesto possa lhe dar a benção, no entanto, Hector chega ao lugar, fantasiado de Frida Kahlo, e algumas verdades vêm à tona. E é tão triste ver a admiração por Ernesto se despedaçar desse modo. Porque Ernesto fez “tudo pela fama”, inclusive roubar as letras das canções, que eram todas de Hector, e envenenar o “amigo” para que ele não atrapalhasse os seus planos. É uma frustração e um sofrimento sem tamanho, e não só Miguel não ganha mais a benção para voltar ao Mundo dos Vivos, como Ernesto fica com a foto de Hector. Ele não quer que ninguém descubra o que ele fez, afinal de contas.
Doloroso.
Mas também nos proporciona as respostas que queríamos. Quando sem esperanças, Hector e Miguel conversam, e ele fala sobre a sua “filha”, e eles descobrem que Hector é quem é, na verdade, o TATARAVÔ DE MIGUEL. Aquilo é tão bonito. Coco, ou a Vovó Inês, é a única pessoa na Terra dos Vivos que ainda se lembra dele… por isso, quando os dois são resgatados, Miguel não aceita simplesmente voltar para casa. Antes, ele precisa da ajuda de toda a família para resgatar a foto de Hector, para colocá-lo nas oferendas. É uma sequência incrível que conta com muita ação e nervosismo, com a foto de Hector caindo e se desfazendo na água, Ernesto perseguido Imelda no palco, enquanto ela se vê forçada a cantar, e a família desmascarando Ernesto de la Cruz na frente de todos os seus fãs… sem contar o fofo do Dante, o vira-lata de Miguel que é, na verdade, seu alebrije.
Eu chorei muito no momento em que Imelda tenta dá a benção a Miguel, e sua condição se converte de “nunca mais cantar” a “nunca esquecer o amor de sua família”. O momento em que ele realmente recebe a benção, no entanto, é com o dia quase amanhecendo, Hector quase que totalmente esquecido, e Imelda lhe abençoa sem condições. Ele pode seguir o seu sonho de ser músico. As cenas finais SÃO AS CENAS MAIS LINDAS POSSÍVEIS DO FILME! Ele corre desesperado para casa, com o violão na mão, e se tranca no quarto com a Vovó Ines, e tenta fazê-la se lembrar de seu Papá, Hector, sem muito sucesso. Até que ele cante “Lembre de Mim”, a música que ele escreveu para ela e cantava com ela. A CENA MAIS EMOCIONANTE DO FILME. Ali, a Abuelita e o restante da família perceberam que eles não podiam privar Miguel de sua música.
Não mais.
É tão BONITO ver Inês se lembrar de seu pai, falar sobre ele, e resgatar entre suas coisas o pedacinho de foto que fora cortada fora. Agora, Hector faz parte da oferenda da Família Rivera. UM ANO SE PASSA. E a finalização ainda mais emocionante. As cartas que Hector escreveu à filha provam que Hector foi o autor das canções, e Miguel explica à sua irmãzinha sobre o Día de los Muertos, as oferendas, e sobre como não é algo sem sentido. Como os seus familiares contam com eles para serem lembrados. Aquilo me emocionou profundamente, bem como a adição da foto de Inês/Coco às oferendas da família, a sequência no Mundo dos Mortos, Hector todo nervoso para passar, juntando-se a Imelda e à sua filhinha (os beijos e abraços, de pai e filha, lindíssimo!). Nesse momento, eu estava chorando quase que descontroladamente, profundamente emocionado.
E a última cena, singela e bela, garantiu a conclusão perfeita de uma experiência marcante: Miguel com o seu violãozinho, sua roupinha de música, cantando na Festa do Dia dos Mortos, e toda sua família reunida. Os vivos, e os espíritos dos seus antepassados, guiados até ali pelas fotos e pelas pétalas, visitando e festejando com eles, um dia ao ano. E o belo e rápido momento em que Hector também pega o seu violão, para cantar com o tataraneto. Detalhes que tornam tudo tão mais bonito. QUE FILME MAIS IMPRESSIONANTE. Amei tudo sobre ele, e guardo de verdade no coração… amei o visual, as canções, a animação em si, mas mais que tudo amei a mensagem sobre a família que nos passaram, e amei como usaram o Día de los Muertos e os elementos que o compõe de forma tão respeitosa e tão conectada à trama. O próprio fato de ser a maior bilheteria da história do México prova o quão cuidadosos eles foram na composição da obra. Uma animação impecável.
Das melhores de minha vida.
<3


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