Chicago (2002)

“And all that jazz…”

“Chicago” é um espetáculo! Com músicas incríveis, performances brilhantemente concebidas (cenários, alegorias, coreografias!) e um constante humor ácido e sarcástico, “Chicago” conquistou o público e abriu portas para mais filmes musicais ganharem os cinemas… com 86% de aprovação no Rotten Tomatoes e 6 Oscars (dentre eles o de “Melhor Filme”), “Chicago” é um grande êxito de encher os olhos até hoje… inteligente e perspicaz, o filme nos conquista com protagonistas imperfeitos, mas carismáticos, que contam uma história debochada sobre os crimes da cidade de Chicago, tudo sendo uma grande alegoria à sociedade em que vivemos e ao sistema judiciário extremamente falho… glamour, imprensa, assassinato, jazz, circo, julgamentos… “Chicago” tem um pouco de tudo e sempre garante um entretenimento divertido e apaixonante.

O filme conta a história de duas assassinas – ao som de “All That Jazz”, conhecemos Velma Kelly, interpretada por Catherine Zeta-Jones, uma mulher que acabou de encontrar o seu marido a traindo com a sua irmã e matou os dois, mas vai ao cabaré fazer o seu show do mesmo jeito; também é nessa primeira sequência que conhecemos a ingênua e sonhadora Roxie Hart, interpretada por Renée Zellweger, uma mulher que sonha em ser uma vedete como Velma Kelly, e que acha que conseguirá isso dormindo com um tal de Fred Casely, mas quando descobre que ele só a está usando e a enganando, ela acaba atirando dele em um acesso de raiva e frustração… assim, ela acaba na mesma penitenciária que Velma, as duas aguardando o julgamento e com a possibilidade de serem enforcadas (!), a não ser que elas encontrem uma maneira de reverter a situação…

Um dos melhores números musicais do filme é “Cell Block Tango”, o momento em que seis assassinas da penitenciária (dentre elas Velma Kelly, mas não Roxie Hart) contam as histórias de como assassinaram seus maridos/namorados/amantes. Eu amo TUDO nessa cena… o tango é intenso e sensual, a coreografia é perfeita com direito a vários detalhes bem colocados, como a cor e o tamanho dos lenços que as mulheres tiram dos lugares de onde mataram seus maridos, e essa é, para mim, a música mais marcante de todo o filme. Essa cena também é a representação de como Roxie Hart vê tudo: como um grande espetáculo. Eu amo como o filme consegue mesclar a “vida real” com cenas de circo, show de cabaré, teatro de marionetes, o que fica brilhante. É uma escolha artística incrível que escancara a crítica e engrandece a experiência de “Chicago” certamente.

Outros dois personagens que precisam ser mencionados são a Mama, interpretada por Queen Latifah, e o advogado Billy Flynn, interpretado por Richard Gere. Além de os dois estarem perfeitos no filme, seus personagens são carismáticos, debochados e representam uma grande crítica que é o que movimenta “Chicago”. A Mama é a responsável pela cadeia, e é corrupta de todas as maneiras possíveis; Billy Flynn, por sua vez, é um astuto advogado apaixonado pelo dinheiro e dotado de uma imaginação gigantesca para criar as mais mirabolantes histórias que sempre salvam as suas clientes – ele nunca perdeu um caso. Adoro como “Chicago” é construído sobre a subversão dos valores, porque nos encontramos, bem depressa, na verdade, torcendo pelas assassinas, amando cada história criada, cada jogada de mestre que as impulsionam à mídia…

O filme é uma grande sátira que constantemente nos questiona: o que é o certo e o que é errado? E mais: isso importa? Velma Kelly é a primeira cliente de Billy Flynn, e então ela ganha as primeiras páginas dos jornais, toda Chicago fala sobre ela e é só isso que importa: ninguém quer saber se ela matou ou não o marido; o que importa é sua popularidade e que as pessoas gostem dela… torçam por ela. O que importa é que ela seja inocentada no julgamento, seja ela inocente ou não. Eu sempre me divirto assistindo “Chicago”, ao mesmo tempo em que fico angustiado, porque o filme é a representação de como a “justiça” muitas vezes funciona: não é absolvido quem é de fato inocente, mas quem tem dinheiro para se defender. Katalin Helinszki, a única inocente que conhecemos na Ala das Assassinas, por exemplo, é ironicamente a única das mulheres que acaba sendo enforcada…

Roxie Hart é um espetáculo à parte, uma personagem incrível que tem um crescimento surpreendente! No início do filme, ela é sonhadora, ingênua, quase burrinha… mas ela dá um jeito de conseguir Billy Flynn trabalhando para ela – uma das primeiras cenas dos dois juntos é ao som de “We Both Reached for the Gun”, que é uma das melhores cenas do filme! Aqui, Billy Flynn está conduzindo uma coletiva de imprensa na qual fala por ela, e ela é apenas uma “boneca” sorrindo e concordando com tudo, e em paralelo acompanhamos o número musical sendo um show de marionetes no qual Billy Flynn é quem está falando, e a construção daquela cena é simplesmente genial! Além de ser visualmente impecável! É muito bom ver como Billy Flynn começa manipulando Roxie até o momento em que ele está manipulando toda a imprensa.

E ele consegue!

Roxie se mostra, eventualmente, extremamente inteligente, e eu adoro vê-la tomando as rédeas de toda a situação, além de que temos, aqui, outra inversão do que conhecemos até então… primeiro, Roxie se torna a “assassina mais amada de Chicago”, com Velma ficando em segundo plano, e quando o mesmo está prestes a acontecer com Roxie, com a chegada de uma nova assassina à penitenciária, Roxie age com rapidez, inventa uma gravidez falsa e consegue que toda a atenção volte para ela. O filme é um grande jogo de manipulação da imprensa e do júri para que Roxie Hart seja inocentada do assassinato que cometeu, tudo isso banhado por muito deboche, inteligência, crítica e números musicais impecáveis. Vide, por exemplo, o julgamento ao som de “Razzle Dazzle” (O DEBOCHE!), ou o momento do diário com “A Tap Dance”. O filme é brilhante!

Eventualmente, tanto Roxie quanto Velma conseguem ser absolvidas em um mesmo julgamento, com um trabalho impecável do grande Billy Flynn, mas o momento de fama das duas passa depressa… uma nova assassina acabou de aparecer e os jornais estão interessados nela; é assim que acontece em Chicago. Ser absolvida não é o suficiente para Roxie: ela quer ser vedete; Velma também quer voltar para os palcos! E se uma vedete assassina não é lá muita novidade em Chicago, talvez duas sejam. Roxie Hart e Velma Kelly se apresentando juntas no fim do filme é a debochada cereja nesse bolo de sarcasmo que é “Chicago”, e tem como não amar aquelas duas se apresentando? No fim do filme, eu estou exatamente como o Billy Flynn, a Mama ou qualquer pessoa naquela plateia: rindo e aplaudindo. “Chicago” merece… QUE FILMÃO!

 

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