Malasartes e o Duelo com a Morte (2017)


O mais esperto dos homens vai enganar a Morte?
Ou a Morte vai enganar o mais esperto dos homens?

AI QUE DELÍCIA DE FILME. Tenho um novo filme para colocar na minha lista de clássicos brasileiros, ao lado de “O Auto da Compadecida”, por exemplo. “Malasartes e o Duelo com a Morte” ainda não chega ao mesmo patamar desse clássico da cultura brasileira, mas é um filme EXCELENTE. Divertido na medida certa, com efeitos especiais embasbacantes e belíssimos visuais, e super brasileiro, o filme é apaixonante! Eu sei que eu senti a vibração do filme, as ótimas atuações, a entrega aos personagens, e saí do cinema orgulhoso e feliz. A ideia original de “Malasartes e o Duelo com a Morte” vem da década de 1980, quando não havia tecnologia o suficiente para fazer os efeitos desejados para uma série de TV com essa história… agora, em parceria com a Universal (!), o filme está um primor e um deleite aos olhos, representando bem esse ícone do folclore brasileiro.
Pedro Malasartes. O mais esperto dos homens.
Gosto da ficção, gosto da maneira como o Brasil é representado, como o núcleo em torno do Malasartes tem esse sotaque apaixonante, e de como se mistura isso ao “sobrenatural”, uma vez que o padrinho de Malasartes não é nada menos que a própria Morte! Além do visual belíssimo (tanto no nosso mundo quanto no Reino da Morte!), as atuações estavam brilhantes. Jesuíta Barbosa é o PERFEITO Pedro Malasartes, consegui vê-lo o tempo todo, e me apaixonar mais a cada segundo. Além do texto, ele tem boa interpretação corporal – suas expressões eram impagáveis! Também temos Ísis Valverde, como a adorável Áurea, Augusto Madeira como o fofo Zé Candinho, Milhem Cortaz como o Próspero, Júlio Andrade como a Morte, Leandro Hassum como Esculápio, ajudando da Morte, e as três irmãs: Vera Holtz como a Cortadeira, Luciana Paes como a Tecedeira e Julia Ianina como a Fiandeira.
Um elenco impressionante!
Uma atuação melhor que a outra <3
Pedro Malasartes é um malandro, mas em toda a sua esperteza, ele revela uma pureza que o inocenta e faz com que nos apaixonemos por ele instantaneamente – não é na maldade, por exemplo, que ele segue sua “caixa de ideias” e engana Zé Candinho com o Pintarroxo/Cocô de Vaca escondido sob o chapéu, nem que ele foge do trabalho de Próspero para “conhecer o padrinho” em seu aniversário de 21 anos. Pedro Malasartes é astuto, pensa depressa, e está sempre pensando no que vai fazer a seguir. Como vai enganar alguém ou se dar bem. E morre de medo de comprometimento! Quando Próspero o encontra na festa de aniversário, ele sai correndo, perseguido, e ainda o ameaça, dizendo algo como “Ocê num sabe quem é meu padrinho… se eu chamo ele, ocê tá morto!”, o que é perspicazmente apurado! E então Pedro Malasartes morre.
Ou quase morre.
Entre a vida e a morte, Pedro Malasartes chega a um lugar desconhecido, e os efeitos merecem ser elogiados… foi gasto muito dinheiro em efeitos especiais, mas eles se pagam. Amei a maneira como Malasartes sai do lago invertido “do lado de lá”, de como conhece as velas e, finalmente, o padrinho: a Morte. O filme tem um misticismo alinhado a mitologia clássica que é apaixonante! Temos as Parcas, uma das quais perdeu o seu trabalho quando, uns dois mil anos atrás, a Morte lhe roubou a tarefa de “tirar as vidas”. Assim, temos a questão da vela, que para mim parece muito mais pertencente à Morte, e a questão dos fios, pertencente às Parcas. E o plano da Morte é enganar Pedro Malasartes, “o mais esperto dos homens”, para que ele fique em seu lugar… afinal de contas, dois mil anos depois, ele está entediado.
Mas Pedro Malasartes é esperto.
Ele consegue retornar à Terra, com três “dons” de trazer alguém de volta à vida. Ele usa o primeiro depressa, para salvar Zé Candinho, quando um jogo de pôquer trapaceiro o leva à morte, e as Parcas não sabem o que dizer com o fio que se soltou… Zé Candinho fica perfeitamente HILÁRIO “sem rumo”, justamente ele, a fofura e doçura em pessoa, inocente, que acreditava em destino, e em como as coisas “já estavam traçadas”. Agora não tinha destino nenhum. Ao trazer o amigo de volta, clamando ao padrinho, Pedro Malasartes tem uma ideia genial: ele pode lucrar com isso. Afinal de contas, ele sabe que se a Morte aparecer na cabeça de uma pessoa, essa pessoa vai viver, e se aparecer nos pés, essa pessoa vai morrer. Então ele pode sair pela cidade oferecendo uma variedade de “diagnósticos” e ganhar dinheiro com isso.
Só precisa pagar metade se a pessoa for morrer!
Tudo é tão gostoso, tão divertido… ri DEMAIS, e o filme passa depressa, é leve, com um quê de inocência que bate de frente com a malandragem de Malasartes que, por sua vez, é a reflexão do paradoxo do roteiro: malandro e puro. AMEI O FILME. O segundo dom é usado para salvar a própria vida, quando Próspero o mata com um tiro. E o terceiro é usado para salvar a vida de Áurea, que está enferma porque a Morte veio buscá-la para acelerar o plano de “enganar Malasartes”. No entanto, aqui temos uma cena CHOCANTE, de quando Próspero, tentando atirar em Malasartes, atira na irmã, e Áurea está para morrer uma vez mais. Também é uma das cenas mais DIVERTIDAS de todo o filme… quer dizer, Malasartes engana a morte, literalmente. Ele inverte, depressa, a posição de Áurea na cama, trocando os pés pela cabeça, e abraça os pés como se fosse a cabeça.
Assim, quando a Morte vem buscá-la, concede-lhe vida.
Perfeito, perspicaz e audacioso… puro Pedro Malasartes!
Depois de usar os seus três dons e enfurecer a Morte ao enganá-la, Malasartes precisa fazer alguma coisa, por isso se joga no rio onde morreu pela primeira vez… entre a vida e a morte, ele pode trocar as velas, a dele por aquela que arderá eternamente. E é uma sequência extraordinária. Repleta de ação e angústia, temos Esculápio e a Cortadeira tentando roubar a vela, que está ficando roxa, de Malasartes, e a Morte vem para garantir que Pedro seja quem vai ficar em seu lugar, seu afilhado de nascença, mas Pedro Malasartes tem outros planos, naturalmente. Ele acende a própria vela, e no último instante joga a vela roxa de volta à Morte, mantendo tudo como está, com uma pequena diferença: ele joga sua vela para voar, assim nem a Morte nem as Parcas controlam o seu destino… sim, o mais esperto dos homens consegue enganar a morte.
E o final é ADORÁVEL. Com a aliança e o Próspero correndo atrás do maravilhoso trio...
...até Malasartes correr em direção à câmera <3
Eu espero sinceramente que o filme seja reconhecido. É UM FILME EXCELENTE. Malasartes faz parte da CULTURA BRASILEIRA, quem nunca ouviu as histórias do “mais esperto dos homens”? E Jesuíta Barbosa faz jus ao personagem, com uma entrega belíssima e convincente (acho que eu tenho uma quedinha por ele!). O roteiro é excelente e audacioso, colocando Malasartes para enfrentar a Morte, que é seu padrinho. E as atuações, não apenas de Jesuíta Barbosa, estão excelentes. Diálogos bem escritos, e bons cenários, os reais ou os de efeitos especiais, o filme tem tudo para dar certo, e para ser amado ao longo de ANOS! Eu sei que EU já estou louco para ver novamente, para vê-lo lançado em DVD e poder comprá-lo… seria pedir demais que eles organizassem uma sequência do filme? Afinal de contas, eu acho que poderíamos fazer tranquilamente mais um filme MUITO BOM com esses personagens!
Fica a ideia!


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